12 março 2007

PÓS-DOC / 2005-2006

corpoemaprocesso/teatrodesessência:
experiência performática em ciberespaço




A pesquisa é, antes de tudo, um processo, o processo de uma experiência (considerando o rigor necessário ao uso desta palavra). Esta determinada experiência carrega em si um movimento permanente, mas necessariamente descontínuo, nitidamente delimitado, de relações multiplicáveis em campos diversos, onde princípio e fim são pontos sempre em recuo. Observa-se que, conforme a linha por onde transita o sujeito da pesquisa, tal processo irrompe com o objeto em seu avesso, e o que está justamente posto à luz da questão é o obscuro malabarismo da relação sujeito/objeto dando consistência à interioridade insólita da experiência de pesquisa. Sob a instância da exterioridade extrema das operações lógicas, a pesquisa é atingida por uma exigência específica: a de expandir e consolidar o desconhecido do espaço interior, a problemática da interioridade, na experiência do ciberespaço.
Esta pesquisa implica uma leitura de processo, cuja operação vem sendo investigada desde minha graduação em Filosofia, estendendo-se de forma mais precisa no Mestrado em Teoria Literária e, consequentemente, de modo mais decisivo, no Doutorado com a tese corpoemaprocesso / teatrodesessência. Filosofia e Literatura costuram-se aí às fibras de um tecido exposto ao avesso, a um texto transverso: trata-se da escritura muscular de um corpo próprio sempre em metamorfose, sendo ele mesmo a linguagem, sendo ele mesmo o discurso e o suporte de leitura ao labiríntico pensamento contemporâneo. A linguagem, ela mesma processo de invenção do conhecimento, quando transpassada pela experiência física, particular, subjetiva de um corpo próprio, é tomada como um objeto visível e tátil em seu contorno, mas cujo interior é de natureza evidentemente desconhecida. Disto, resulta a relação de sujeito/objeto como possibilidade que se cria para além do conhecido, excedendo o limite, o possível do conhecimento, à experiência que se oferece fora da linguagem, considerando que “ir ao término”, como diz Georges Bataille, “significa pelo menos isto: que o limite, que é o conhecimento como fim, seja ultrapassado”.


1. Corpo e Labirinto




  • Define-se o traço gráfico que o objeto/tese apresentará no espaço eletrônico. A exploração do desejo aparece como possível função à arquitetura do sistema interativo. Avançar, errar, voltar, retornar, movimentos que requerem o abandonar-se à magia do desvio. A regra (ou a possibilidade maior) é o perder-se no ato de explorar ao máximo as encruzilhadas. Não é possível desejar, sem fazer uma experimentação inevitável, feita no momento em que se começa.


2. Performance: teatrodesessência: o possível [n]do limbo

  • Limbo: orla, borda, rebordo, lugar para o esquecimento, de onde é impossível recuperar o trajeto. Retornar é girar em torno do diferente. Tem-se apenas o contorno luminoso, aonde o traçado vai sendo tecido no momento da navegação. O viajante poderá registrar as posições alcançadas, mas não necessariamente na ordem sucessiva, e uma outra escritura vai sendo criada à margem, à extremidade da superfície: um produto de funcionamento imediato. Estar em disponibilidade de poema: assim executa-se a performance do teatrodesessência, o ato/processo, o videoatoprocesso, assim dá-se a experiência do corpoemaprocesso em ciberespaço.

3. Corpoemaprocesso: corpobjeto/virtual, fragmento de si mesmo.


  • Corpobjeto/virtual: o que tem possibilidade de se realizar, o que pode se atualizar. O corpoemaprocesso é uma atualização/criação em ato/processo que estabelece relação com a impossiblidade do imediato. No ato, a presença do corpo alimenta sua ausência potencial, o virtual, fragmento de si mesmo, solto do aqui e agora e presente em cada uma de suas versões.